13 de outubro de 2010

Promessa?!

Ontem, a Sara sugeriu-me que espreitasse um blog!
De facto, tem palavras, descrições, acontecimentos, que a mim, particularmente, fazem-me reflectir e questionar algumas coisas.
Por isso resolvi partilhar um pouquinho do que li, até porque num dia como o de hoje, tenho a certeza que o cenário abaixo descrito se repetiu , vezes sem conta, em Fátima.

"Uma noite em Fátima*
Estava em Fátima e, como sempre, aproveitei para dar uma saltada ao Santuário na hora do terço. Vinte e uma e trinta. O tempo estava nublado. Eu também estava. Digamos que o cansaço ruíra sobre mim e precisava de um conforto espiritual. Tudo se conjugava para uma noite com Maria. Coloquei-me debaixo da capelinha, mas ao fundo. Curiosamente de cima da passadeira. A famosa passadeira que sempre me costuma incomodar. A passadeira das senhoras e senhores que cumprem promessas de joelhos, a arrastar vidas, dificuldades, problemas, e muitas vezes, crendices. Nunca aceitei bem, como espero que Deus não aceite bem, estas promessas que fazem do sofrimento gratuito um negócio com Deus, como se a este agradasse o sofrimento por si. São estas as mesmas pessoas que, muitas vezes, põem em causa o sofrimento que Deus permite acontecer no mundo e que, ao mesmo tempo, se infligem, sem necessidade, sofrimentos fortuitos. Não sei nunca como explicar estas dicotomias que as pessoas vivem ou pensam.
Estava eu nas minhas respostas do terço quando me tocam no ombro para me afastar. Não entendi logo o que se passava. Mas depressa percebi, quando uma senhora passa a poucos centímetros de mim, a arrastar-se na passadeira. Mesmo que a promessa fosse oportuna, a hora não o era de certeza. Olhei-a bem no fundo dos olhos procurando uma resposta. Curiosamente ela não escondia o rosto. Antes me parecia que gostava de o ostentar. Por isso tive oportunidade de a olhar nos olhos. Mais pessoas foram distraídas da sua oração para dar lugar à promessa. Eu quase que interroguei a senhora. Ainda me inclinei para o fazer. Não tive coragem, ou desfaçatez. Justifiquei-me, imaginando que até podia ser estrangeira e não entender a minha linguagem. Não entenderia, de certeza.
Não consegui rezar mais, porque a cabeça perguntava-me, mil e uma vez, porquê.
Desta vez a promessa foi mais forte que a oração. Quantas vezes é até mais forte que a fé!"

*Fonte: Confessionário de um Padre

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